quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O PAI PERDOA


"O pai perdoa" é um daqueles escritos que - criados num momento de autêntico sentimento - toca a sensibilidade de alguns leitores e continua a repercutir dentro deles, a ponto de se tornar uma leitura favorita. Desde sua aparição, segundo o autor, W. Livingston Larned, foi reproduzido "em centenas de revistas, publicações empresariais e jornais de todo o país. Foi publicado em vários idiomas quase que na mesma proporção. Por vezes, um pequeno artigo, misteriosamente, parece `ligar' as pessoas. E este, sem dúvida, o conseguiu". (Dale Carnegie)


O PAI PERDOA


Escute, filho: eu estou dizendo isso enquanto você dorme, debruçado com a sua mãozinha debaixo do seu rosto e os cachinhos dourados molhados de suor grudados na testa. Eu entrei no seu quarto sozinho. Há poucos minutos atrás, enquanto eu estava sentado lendo meu jornal na biblioteca, fui invadido por uma onda de remorso sufocante. E, sentindo-me culpado, vim para ficar ao lado de sua cama.


Eu estive pensando sobre algumas coisas filho: fiquei bravo com você. Na ora em que se trocava para ir à escola, ralhei com você por não enxugar direito o rosto com a toalha. Chamei-lhe a atenção por não ter limpado os sapatos. Gritei furioso com você por ter atirado alguns de seus pertences no chão. Durante o café da manhã, também impliquei com algumas coisas. Você derramou o café fora da xícara. Não mastigou a comida. Pôs o cotovelo sobre a mesa. Passou manteiga demais no pão. E quando começou a brincar e eu estava saindo para pegar o trem, você se virou, abanou a mão e disse: "tchau, papai!" e, franzindo o cenho, em resposta lhe disse: "Endireite esses ombros!".


À tardezinha, tudo recomeçou. Voltei e quando cheguei perto de casa vi-o ajoelhado, jogando bolinha de gude. Suas meias estavam rasgadas. Humilhei-o diante de seus amiguinhos fazendo-o entrar na minha frente. As meias são caras – se você as comprasse tomaria mais cuidado com elas! Imagine isso, filho, dito por um pai!


Mais tarde, quando eu lia na biblioteca, lembra-se de como me procurou, timidamente, uma espécie de mágoa impressa nos seus olhos? Quando afastei meu olhar do jornal, irritado com a interrupção, você parou à porta: "O que é que você quer?", perguntei implacável. Você não disse nada, mas saiu correndo num ímpeto na minha direção, passou seus braços em torno do meu pescoço e me beijou; seus braços foram se apertando com uma afeição pura que Deus fazia crescer em seu coração e que nenhuma indiferença conseguiria extirpar. A seguir retirou-se, subindo correndo os degraus da escada.


Bom, meu filho, não passou muito tempo e meus dedos se afrouxaram, o jornal escorregou por entre eles, e um medo terrível e nauseante tomou conta de mim. O que o hábito estava fazendo de mim? O hábito de ficar achando erros, de fazer reprimendas - era dessa maneira que eu o vinha recompensando por ser uma criança. Não que não o amasse; o fato é que eu esperava demais da juventude. Eu o avaliava pelos padrões da minha própria vida.


E havia tanta beleza, bondade e verdade e seu caráter. O seu pequeno coração era tão grande quanto o sol que subia por detrás das colinas. E isto eu percebi pelo seu gesto espontâneo de correr e de dar-me um beijo de boa noite. Nada mais me importa nesta noite, filho. Entrei na penumbra do seu quarto e ajoelhei-me ao lado de sua cama, envergonhado!.


É uma tentativa inútil de arrependimento; eu sei que, se você estivesse acordado, não compreenderia essas coisas. Mas amanhã eu serei um papai de verdade! Serei o seu amigo, sofrerei quando você sofrer, rirei quando você rir. Morderei minha língua quando palavras impacientes quiserem sair pela minha boca. Eu irei dizer e repetir, como se fosse um ritual: "Ele é apenas um menino – um menininho!".


Infelizmente eu te vi como um homem. Mas, olhando-o agora, filho, encolhido e amedrontado no seu berço, eu entendo que ainda é um bebê. Ainda ontem esteve nos braços de sua mãe, a cabeça deitada no ombro dela. Eu fui muito, mas muito exigente.


Em lugar de condenar os outros, procuremos compreendê-los. Procuremos descobrir por que fazem o que fazem. Essa atitude é muito mais benéfica e intrigante do que criticar; e gera empatia, tolerância e bondade. "Conhecer tudo significa perdoar tudo".


Como disse o dr. Johnson: "O próprio Deus, não propôs julgar o homem até o final de seus dias". Então, por que você e eu o julgamos?


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